Cirurgia Bariátrica - Antes e Depois

Oi gente, hoje venho para contar um pouco sobre a minha cirurgia bariátrica. Muitos dos que me conhecem recentemente não têm ideia de que sou gastroplastizada e, quando conto, ficam muito espantados, pois não conseguem me visualizar obesa. Bom, confesso, nem eu mesma consigo mais, principalmente depois de quatro anos.

18/02/2005 - 68kg

Na verdade, a vida toda fui "normal". Meço 1,68m e pesava em torno de 68kg à 74kg. Como tenho uma estrutura grande e era pernuda e bunduda, as gordurinhas extras ficavam bem distribuídas. Ocorre que, quando conheci o Junior, em 2005, escorreguei na maionese. Sempre fui de comer muito, mas também malhava demais e fazia vários esportes no colégio. O meu erro foi parar com todos os exercícios físicos e continuar comendo, sem medida. Para piorar, todos os nossos encontros eram culinários, e Junior pode comer o que quiser que não engorda. Então, eu simplesmente fui comendo tudo o que ele comia e ganhando peso por nós dois :(

Como o Junior nunca se importou com as aparências, eu não percebia que já tinha engordado muito. Para ele, eu ainda estava bem e linda, então não me estressava nem um pouco. Quando fomos morar juntos, em 2008, a situação ficou ainda mais dramática. Como uma recém esposa, estava ávida para agradar o marido, e isso implicava em testar milhares de receitas deliciosas e calóricas. Entre elas, as minhas preferidas: torta de bolacha e waffles de chocolate, com cobertura de brigadeiro e uma bola de sorvete em cima.

Não preciso nem dizer que bastou cerca de um ano para eu virar uma bola. Quando passei dos 100kg, parecia que até respirar engordava. Perdi completamente o controle da balança e a autoestima ficou abaixo de zero. Entrei em desespero, queria emagrecer de qualquer jeito, mas a fome era difícil de controlar, o corpo não tinha mais ânimo para qualquer tipo de exercício e os problemas de saúde começaram a surgir um atrás do outro.

Em 2010 eu tive que ir às pressas para o hospital fazer uma cirurgia de emergência com suspeita de esgoelamento de uma alça intestinal. Nesse momento, o médico que me operou, me deu um ultimato. "Você quer morrer?", ele perguntou, me deixando atônita. "Você está pertinho de ter um ataque cardíaco ou um AVC". Sim, ele falou na lata, sem nenhum tato, mas conseguiu causar o efeito que pretendia, me deixou morrendo de medo. O Dr. Gerson disse que eu precisava de uma perda considerável de peso, e urgente, para recuperar a minha saúde de volta e, infelizmente no estágio de obesidade mórbida que eu já me encontrava, nenhuma dieta me garantiria isso, não a curto prazo.

28/08/2011 - 135kg

Eu cheguei a pesar 140kg, perdi 2cm de altura por causa do achatamento das vértebras em função do peso, tive diabetes, hipotireoidismo, colesterol alto, arritmia cardíaca, apneia do sono, hérnia umbilical, adenomas no fígado, problemas nas articulações, pressão alta, dentre várias outras coisas que no momento nem lembro. Sim, a lista era interminável e desanimadora. A única notícia boa era que as minhas artérias ainda não estavam entupidas, e a minha idade favorecia uma rápida recuperação.

Não saía mais de casa nesse estágio, não só pelo desânimo, mas porque moro no quarto andar de um prédio sem elevador. Eu não aguentava subir e descer as escadas. Quando saía com o Junior para ir ao shopping, tinha que entrar na porta traseira do ônibus, senão entalava na roleta, não aguentava andar de um ponto ao outro do Iguatemi e na volta, Junior tinha que colocar um banquinho no chão para que a cada andar eu pudesse descansar.

Isso não é viver! Isso mal é sobreviver! Ninguém merece passar por nada parecido. O pior de tudo é ter que aguentar olhares de pena, ou então de nojo, porque parece que obesos merecem ser obesos como uma espécie de punição por não conseguirem controlar a sua alimentação. Obesidade é doença, como outra qualquer, porém, é marginalizada na sociedade fútil que vivemos, que só se importa com a aparência e que adora inventar moda.

Obesidade deve ser tratada, e os obesos precisam do apoio de seus familiares e amigos para vencerem sua condição!

Antes e depois

A cirurgia bariátrica não é uma solução milagrosa como muitos pensam. Também não é a mais fácil, ao contrário, não é qualquer obeso que tem indicação para uma gastroplastia ou que então consiga realmente suportar as restrições e a mudança de vida impostas por esse procedimento tão radical. Tanto é que o que mais vejo por aí são operados engordando novamente. Emagrecer é fácil, o difícil é se manter magro.

Não quero entrar no mérito dos pós e contras da cirurgia bariátrica, das técnicas existentes e de outros detalhes, que são vários, porque senão ficaríamos falando disso para sempre. Até hoje me arrependo de não ter mantido um registro de como tudo aconteceu, pois sei que ia ajudar muita gente. Então sugiro que pesquisem na internet, entrem em fóruns de discussão caso tenham interesse e procurem profissionais gabaritados que podem ajudá-los. Se vocês tiverem dúvidas pontuais sobre algum assunto, deixem nos comentários que tentarei responder na medida do possível, nem que seja num próximo post.

Mudança de hábitos - Nutrição Funcional

A questão é que dia 20 de novembro de 2011 eu fiz a gastroplastia por vídeolaparoscopia com a técnica Fobi-Capella, no Hospital Mãe de Deus Center, em Porto Alegre, com a equipe do Dr. Jorge Ruttkay Pereira, do Gecom. Não poderia ter sido mais perfeita! O Dr. Jorge foi um anjo que entrou na minha vida. Nunca tive um médico tão incrível, atencioso e humano quanto ele, e sua equipe de profissionais multidisciplinares foi essencial para me amparar e me deixar segura em todas as etapas do pré e do pós operatório.

Fiz a cirurgia bariátrica não por uma questão estética, mas por uma questão de saúde. Queria ter de volta a minha qualidade de vida. Sonhava com coisas triviais, como correr atrás do ônibus, passar a roleta, ir ao cinema, comprar roupas sem cair no choro por nada me servir, ter fôlego para acompanhar o meu marido onde quer que ele fosse e, quem sabe um dia, ser mãe.

Meu sanduíche favorito

Em quase quatro anos, eliminei 72kg, por puro esforço, disciplina e determinação. Eu segui o plano alimentar à risca, tomei todos os remédios, fui frequentemente em todas as consultas e sempre tive muito medo de voltar a engordar, então isso me ajudou a não cometer excessos. Por onze meses não coloquei um doce sequer na boca. Ninguém acreditou como pude aguentar tanto. No dia que resolvi comer uma colher de brigadeiro, desmaiei de dumping.

Tudo mudou desde que me operei. Vou ter que tomar vitaminas para o resto da vida, faço exames regularmente, como pouco de 2 em 2h horas, levo marmitinhas e lanches em sacolas térmicas a cada vez que saio e passo muito tempo fora de casa, me canso com facilidade, passo mal com frequência por causa de enjoos, entalos e dumpings, e muitas pessoas simplesmente não entendem as necessidades especiais que possuo. Mas não me importo nadinha! Não troco essa vida de hoje por nada, porque as dificuldades estão aí para aprendermos a nos adaptar, e o que são alguns dumpings ou vitaminas comparados a excelente vida que possuo hoje em dia?

Receita fácil, nutritiva e apetitosa

Quanto ao meu corpo, não sou uma top model. Fiquei flácida, com muita pele sobrando e a musculatura fraca, porque não fiz exercícios físicos enquanto emagrecia, por falta de tempo e de dinheiro. Sei que se tivesse feito, as consequências de uma perda radical de peso teriam sido bem minimizadas. Independente, me aceito e me amo como sou e não tenho pretensões de fazer plásticas, pelo menos por enquanto.

Queria permanecer com o mesmo peso para o resto da vida, mas o medo de engordar permanece como uma sombra sinistra que nunca vai embora. De todas as amigas bariátricas que conheço, só eu e mais três permanecemos "magras", e isso assusta muito. Ainda mais agora na gravidez, não sei como será. Tudo é uma grande novidade para mim, que espero poder dividir com vocês.

Ser gastroplastizada nunca me preocupou, até o meu beta hcg dar positivo. Logo, milhares de dúvidas me assolaram. "Será que vou conseguir comer o suficiente para nutrir o bebê?", "Será que vou ter força abdominal, mesmo cheia de pontos internos, para ter um parto natural?".

Sigo em busca de informações para responder essas e outras perguntas. E podem deixar que voltarei para dividir tudo com vocês :)